Doação de Rins Após Paragem Cardiocirculatória: O Papel da Oxigenação por Membrana Extracorporal

Autores

  • Ana Rita Correia Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal
  • Margarida Manso Serviço de Urologia, Centro Hospitalar de São Joao, Porto, Portugal
  • Roberto Roncon-Albuquerque Jr. Serviço de Cuidados Intensivos, Centro Hospitalar São João, Porto, Portugal; Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal
  • Gerardo Oliveira Unidade de Transplantação, Centro Hospitalar São João, Porto, Portugal; Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal
  • Carlos Silva Serviço de Urologia, Centro Hospitalar de São Joao, Porto, Portugal; Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal
  • Francisco Cruz Serviço de Urologia, Centro Hospitalar de São Joao, Porto, Portugal; Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal
  • Tiago Antunes-Lopes Serviço de Urologia, Centro Hospitalar de São Joao, Porto, Portugal; Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.24915/aup.36.1-2.86

Palavras-chave:

Circulação Coronária, Oxigenação por Membrana Extracorpórea, Morte, Preservação de Orgão, Seleção do Doador, Sobrevivência de Enxerto, Transplante de Rim

Resumo

Introdução: A doença renal crónica é uma patologia prevalente, sendo significativo o número de doentes em estádio terminal cujas alternativas se resumem à terapêutica de substituição da função renal e ao transplante, sendo o último associado a maior qualidade de vida e a menor mortalidade. A procura crescente de rins para transplante tem aumentado o desfasamento relativamente aos rins disponíveis. Esse desfasamento impulsionou a pesquisa e desenvolvimento de alternativas aos dadores cadáver em morte cerebral, sendo os dadores após paragem cardiocirculatória uma alternativa viável. Estes obrigam a técnicas de preservação de órgão distintas, de forma a poder oferecer resultados funcionais sobreponíveis. O objetivo deste artigo foi rever a evidência recente sobre o papel da utilização da oxigenação por membrana extracorporal como técnica de preservação, na colheita de rins de dadores após paragem cardiocirculatória.

Material e Métodos: Foi efectuada uma pesquisa na base PubMed/MEDLINE, utilizando as expressões: “kidney transplantation”; “non-heart-beating donor”; “donation after cardiac death”; “extracorporeal membrane oxygenation”; “abdominal normothermic perfusion”. Com os artigos selecionados, realizou- se uma revisão não sistemática, sumarizando a evidência recente sobre a utilização da oxigenação por membrana extracorporal na colheita de rins de dadores após paragem cardiocirculatória.

Resultados: Verificou-se que os estudos sugerem com unanimidade que a oxigenação por membrana extracorporal é superior às outras técnicas de preservação utilizadas em dadores após paragem cardiocirculatória, uma vez que está associada a melhores resultados a curto prazo do aloenxerto renal. Relativamente aos dadores convencionais, em morte cerebral, a técnica permite resultado semelhantes, quando comparada com os dadores de morte cerebral de critérios expandidos.

Discussão: A preservação de órgãos através da oxigenação por membrana extracorporal nos dadores após paragem cardiocirculatória permite resultados funcionais favoráveis e, por esse motivo, poderá contribuir para o aumento do pool de dadores. As dificuldades logísticas associadas à implementação da técnica restringem a sua utilização.

Conclusão: A longo prazo, deverão ser criadas condições para a implementação em mais centros da oxigenação por membrana extracorporal nos dadores após paragem cardiocirculatória, aumentando o pool de rins disponíveis para transplante.

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Publicado

2019-09-21

Edição

Secção

Artigo de Revisão