Avaliação do Risco Cardiovascular nos Utentes com Disfunção Erétil no ACES de Matosinhos
DOI:
https://doi.org/10.24915/aup.220Palavras-chave:
Cuidados de Saúde Primários, Disfunção Erétil, Doenças Cardiovasculares, Factores de Risco de Doença CardíacaResumo
Introdução: A disfunção erétil consiste na incapacidade persistente de atingir/manter uma ereção que permita desempenho sexual satisfatório. A fisiopatologia da disfunção erétil apresenta semelhanças com a da doença cardiovascular, incluindo aterosclerose, disfunção endotelial, dano vascular estrutural ou inflamação subclínica. A relação entre fatores de risco existe em ambos os sentidos: a abordagem precoce da disfunção parece reduzir o risco de eventos cardiovasculares major, visto que a disfunção erétil tem um valor preditivo independente nestes eventos. Este estudo pretende estratificar os doentes com disfunção erétil segundo o risco cardiovascular, uniformizando a abordagem diagnóstica e terapêutica.Métodos: Este estudo é observacional e descritivo, tendo como objetivo avaliar risco cardiovascular em utentes com disfunção erétil. A amostra corresponde a utentes do sexo masculino com idade igual ou superior a 40 anos e com diagnóstico de disfunção erétil (ICPC-2 Y07 – “Impotência”) no ACES Matosinhos, em 2022.
Resultados: Foram analisadas 14 unidades do ACES de Matosinhos, com um total de 720 utentes codificados com Y07. A média de idades foi 67 anos (mínimo 40 e máximo 97 anos). Relativamente às comorbilidades, analisando a codificação ICPC-2, 566 utentes apresentavam dislipidemia, 605 hipertensão arterial, 337 diabetes mellitus e 208 obesidade; 178 utentes eram fumadores e 64 apresentaram hábitos etílicos regulares. Os resultados demonstraram que 128 utentes apresentavam doença cardíaca isquémica, dos quais 50 com antecedentes de enfarte agudo do miocárdio e 32 de acidente vascular cerebral. De realçar que 224 utentes apresentavam risco cardiovascular de 5% e 309 de 10%.
Conclusão: A abordagem da disfunção erétil nos cuidados de saúde primários permanece um desafio. A sua abordagem de forma sistemática, equiparada a outros preditores de risco cardiovascular como a hipertensão arterial ou perfil lipídico, contribui para a otimização do risco cardiovascular, dado que é um marcador independente preditor de risco CV. Este estudo corrobora os existentes, visto que a maioria dos utentes com disfunção erétil apresentou risco cardiovascular elevado ou muito elevado. Assim, é importante questionar o padrão sexual dos utentes, de modo a identificar casos de DE e, consoante o risco CV, realizar estudo diagnóstico e abordagem terapêutica adequada.
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