Impacto na Função Sexual Após Resseção Anterior do Reto: Estudo Transversal

Autores

  • Joao Lorigo Serviço de Urologia e Transplantação renal, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
  • Ana Oliveira Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra Portugal
  • António Manso Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra Portugal
  • Edgar Silva Serviço de Urologia e Transplantação renal, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
  • António Ribeiro Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra Portugal
  • José G. Tralhão Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra Portugal
  • Arnaldo Figueiredo Serviço de Urologia e Transplantação renal, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.24915/aup.155

Palavras-chave:

Complicações Pós-operatórias, Disfunção erétil, Neoplasias do Reto/cirurgia, Reto/Cirurgia

Resumo

Introdução: Com a evolução e melhoria da técnica cirúrgica e dos cuidados médicos de suporte, a esperança média de vida dos doentes aumentou, pelo que aspetos como a qualidade de vida após cirurgia têm sido cada vez mais valorizados. A resseção anterior do reto (RAR) é uma opção terapêutica para doentes com certas patologias localizadas ao reto (como adenocarcinoma). Esta técnica tem potencial de acarretar importantes morbilidades pós cirúrgicas, não só gastrointestinais, mas também urológicas, como incontinência e disfunção erétil.

O objetivo foi avaliar o impacto na função erétil e sexual de doentes submetidos a RAR.

Material e Métodos: Estudo transversal, que incluiu todos os doentes do sexo masculino submetidos a RAR entre novembro de 2018 e setembro 2019 no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) (n=43). A população apresentou uma média de idade de 66,1±9,9 anos (idades compreendidas entre 29 e 90). Foram realizadas entrevistas telefónicas e foi efetuado um questionário acerca da sexualidade e função erétil prévios à cirurgia, bem como após a mesma. Para este fim, foi utilizado o Index Internacional da Função Erétil Simplificado (IIEF-5) com um cut-off de pontuação <22 para definição de disfunção erétil. Obteve-se consentimento verbal por parte de todos os participantes.

Resultados: Da amostra inicial, apenas 32 cumpriram os critérios de inclusão e integraram o estudo. Previamente à cirurgia, 26 dos participantes (81,3%) referiram ser sexualmente ativos, com a amostra a obter uma pontuação média no IIEF-5 de 18,7±6,4. Após cirurgia, 16 doentes (50%) referiram manter vida sexual ativa, com a amostra a demonstrar uma pontuação média no IIEF-5 de 11,1±6,2. A prevalência de DE (IIEF-5<22) na amostra estudada foi de 53,1%, previamente à cirurgia, com subida da prevalência para 90,6% após a intervenção cirúrgica. Admitiram diminuição na função erétil (FE) 23 doentes (69,7%). Destes, 4 (17,3%) referiram ligeira melhoria da função erétil ao longo do tempo, tendo os restantes negado alteração desde a cirurgia. Demonstrou-se um impacto negativo na função erétil dos doentes submetidos a RAR (p<0,05). De salientar que 10 doentes sexualmente ativos previamente à cirurgia, não retomaram a vida sexual após a mesma. De entre os doentes com agravamento da função erétil pós-operatório, 4 falaram com um profissional de saúde e 3 foram encaminhados para consulta de Urologia. Nenhum doente referiu ter sido inquirido ativamente acerca da sua função erétil após a cirurgia.

Conclusão: Este estudo demonstrou um impacto negativo na função erétil de doentes submetidos a ressecção anterior do reto. Por este motivo, considera-se pertinente uma pesquisa ativa desta prevalente morbilidade em todos os homens submetidos a RAR, no sentido de uma atempada e adequada reabilitação sexual pós-operatória e consequente melhoria da qualidade de vida destes indivíduos.

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Publicado

2023-03-16

Edição

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Artigo Original